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  • Foto do escritorBiodecon

O Assassinato do Coreano

Atualizado: 6 de mai. de 2022

Vimos o caso na TV numa quinta-feira. O crime também estampava capas de revistas e jornais. No sábado, chamaram a Biodecon para limpar a cena do crime. Um coreano de 28 anos, comerciante, foi vítima de latrocínio no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Na terça-feira, um ladrão entrou na casa do rapaz e o esfaqueou até a morte. Um espelho quebrado e a TV toda torta e amassada apontavam vestígios de briga. A irmã, que tinha saído para passear com o cachorro, encontrou o irmão morto e todo ensanguentado ao retornar.


Eu, Clícia, entrei em choque quando entrei na casa e vi o que realmente tinha acontecido. Tinha muito sangue pelo imóvel, já que o IML fez o favor de arrastar o corpo do quarto para a sala sem embalá-lo. Pelo que vi, o rapaz perdeu praticamente todo o sangue que tinha dentro de si. Tinha coágulos no corredor, na parede, infiltrado dentro do piso de madeira, nas prateleiras. O cheiro era de ferro.

No dia seguinte, domingo, fomos em quatro pessoas limpar o local. A família e alguns amigos aguardavam na sala enquanto limpávamos o quarto e o corredor. O clima era de velório.

Foram quatro horas de trabalho ininterruptos. Estávamos todos paramentados com roupas, calçados e máscaras especiais para que não houvesse risco de contaminação. O contato com o sangue, mesmo seco, pode provocar doenças, já que alguns vírus permanecem nele por meses, como a hepatite, por exemplo. Usamos muitos produtos químicos específicos e tivemos que esfregar bastante para tirar as manchas e o odor.


Começamos pelo chão, parede e depois fomos limpar prateleiras e objetos. Coube a mim limpar os porta-retratos. Um turbilhão de pensamentos vinha em minha cabeça vendo aquelas imagens de infância, fotos dele e dos irmãos brincando, sorrindo, fotos de comemorações com a família – como aniversários e Natal, de viagens para lugares lindos. Ficava imaginando a vida feliz que havia sido interrompida e no quanto aquele rapaz ainda tinha para conhecer e realizar. Vinha um sentimento de revolta e injustiça por saber que ele tinha morrido por causa de um Playstation e apenas 500 reais, o valor que a vítima guardava em casa. Uma vida e uma família destruída por tão pouco! Acho que nunca senti tanta tristeza ao limpar a cena de um homicídio. Foi preciso muito sangue-frio, da minha parte e de toda a equipe, para terminar o serviço.


O comerciante morava com duas irmãs. Elas queriam limpar o imóvel para vender e se mudar o quanto antes. Para elas deveria realmente ser um pesadelo continuar vivendo naquele lugar onde a tragédia aconteceu. Deixamos tudo limpo e cheiroso. Quem entrasse lá e não soubesse do crime pelo noticiário jamais imaginaria que algo do gênero tenha ocorrido ali.

O serviço ficou impecável. Mas saímos de lá arrasados, com a sensação de que uma vida não vale nada.











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